Se a cadeira branca e fria me abandonou não foi por acaso.
Desde há muito que não me olhava dela e sinto-a agora torcer-me o estomâgo como retaliação pelo esquecimento. Não se deve esquecer pessoas. Muito menos coisas.
O tempo que veio desde a última vez que me olhei dela obrigou-me a morrer novamente todos os segundos que dela me lembrei. E não foi fácil. Nada mesmo.
Durante todo este tempo tentei ignorá-la, passar-lhe ao lado, pontapeá-la como se nada fosse. Nada. Porque é onde se julga que as coisas pertencem. Á Terra do Nada.
Esta provocação à Terra do Nada, mais tarde ou mais cedo, paga-se.
Isso. Torce mais um pouco.
As coisas são MESMO importantes. Não só porque nos fazem sentir pessoas mas porque nos colam às outras pessoas.
Isso. Faz da tua actuação o guião de uma úlcera gástrica.
As pessoas são menos importantes do que as coisas. E Porquê? Porque as pessoas não vivem sem as coisas mas as coisas vivem sem as pessoas. Abandonada no chão dum quarto de alcatifa escuro, ela sobrevive.
E já na estrada, de olhos postos no vazio lateral que o autocarro ultrapassa, a úlcera rebenta e num trovão de dor interno solto um uivo de raiva que mal se chega à garganta se perde pelo esófago.
Só eu sei o queria gritar. Dois pontos Matem-me Já. Acabem com ela enquanto podem.
Esperei pela anuência. Pero Nada. Silêncio de um zero à esquerda…
Só interrompido por um destemido
-“It’s Love Jackass…”
-Deixa é só a minha consciência a fazer barulhos de fome
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