Monday, September 18, 2006

Tigela de amor

Talvez o branco. Assim que me sento ligo-me na rádio. Ligo-me e deixo o mundo em que me fui criado. Vejo o rapaz bem educado. O rapaz dum ar ligeiramente simpático com cabelo empastado em gel. Espetado. Tudo indica que é feliz. O que é que faz mesmo esse rapaz?

Lanço. E perfuro-me na atmosfera da razoabilidade para enlear-me no universo das letras. Aqui! O fingidor sou eu. O fingidor és tu. Posso dizer-me ser feliz e ser bem, ser triste e ser mal. E sim, nas letras somos um tudo à direita e um nada à esquerda. Nada por tudo.
Vagueio. Vou-me até ao dia em que descobri o tal fogo.
Foi justamente encostado naquela parede branca cal que percebi que dói… Dói mas ao contrário do que canta Camões também se vê…e eu vi o todo branco que me encheu o olhar...Papá…chamava-me ela e aí me fugia eu prá sua beira. Linda, quente, enchia-me por completo que parecia explodir o peitito daquele magricelas, a doce menina.
Vinha a manhã e o Sol nascia todo pelas entranhas do meu ser humano ainda frágil, pero ja hombre. Toca-me. Já lhe sinto o odor a qualquer coisa misturada com a alfazema da cómoda da mãe. Infantil. Ingénua de um tudo em que é pouco mais que o nada em que nasceu.
Branca, a cal.
Avança e num passo bate com força no chão. Pára diante de mim. Olha-me e lança sua mão nívea de encontro ao meu pescoço e pára. Pára…A respiração fundada num nada pára também. Encostado em parede no muro morro-me por dentro como pirâmide de hipérboles do amor. O que quer que foi doeu, despoletou uma qualquer guerrinha de infantarias por todo dentro de mim e esforço-me para que no exterior não se ouça as trompetas…É bem forte. Torna o mais aguerrido combatente numa mera haste ao vento…Volta a respiração e ainda não consigo tomar-lhe a íris. Que estranho este que ama. Ama. Baixa a cabeça e num movimento brusco que balouça todos as cordas de cabelo saca-lhe da mão. E ama.
Ela põe os pés num slamlom de balarina e o general máximo toca a retirada.
Branco, o magricelas desvia o olhar e foge por entre as pernas brancas em tropeços ziguezagues…

Trôpego, de um modo sorrateiro, ajeita o cabelo de uma tigela em que o barbeiro fazia a espuma e segue o seu caminho com os olhos baixos. Vai prá sala branca…o magricelas.

2 comments:

Daisy said...

O que quer que foi doeu, despoletou uma qualquer guerrinha de infantarias por todo dentro de mim e esforço-me para que no exterior não se ouça as trompetas… alguém disse que poeta é aquele que ao escrever te consegue fazer sentir aquilo que ele outrora sentiu...temos poeta =*

T. said...

lindo...