Friday, April 28, 2006

Perder por perder...um vivo!



Vejo-te esplanada num leito tosco, sobrancelhas levemente arqueadas e uma boca doce..dolce!

É este vaivém coração-cérebro que pára de soluço em soluço como escarro de dor que me ata a garganta e atrofia o fôlego.

A ti, olho-te lá do cima, esplanada num leito tosco. Num quarto de branco fusco e pulverizado a alfazema. Pra dizer a verdade toscamente espalmada de bruços. Não é teu.

E num ápice a roedora úlcera que me aniquila o pensamento dá lugar efémero ao passado que era uma bem feliz dor de cabeça. Eras tu. Esbanjada naquela cadeira negra que te deixava aquele sorriso ainda mais colorido. Impossivelmente mais doce. Apresentas-te. Trocamos identidades como quem Se troca. Foi a pródiga fofa desta roldana…

Senti que te tomava cada vez que te olhava, senti que te levava comigo no teu quente perfume, senti que eras minha e só a ideia possessiva e egoísta de te ter para mim me tornava verdadeiramente altruísta contigo. Dominavas com açoite o meu pensamento. E não pensava. Comigo felicidade eterna. Contigo eternamente feliz. Eras a Outra peça do puzzle. Perder-te era amputar o melhor que de mim tinha. Falhei.

Porcelana da mais fina, eclipsou-se por entre as minhas mãos, lançou-se inanimada na atmosfera, girou tosca e redonda, e deixou quedar-se toda no chão. Ainda te pontapeei. Acabou…“(Meu nome de registo civil)”, balbuciaste em tons moribundos.

Foi. Coma cru e tosco em que te encontrei. Liquidado em ti. Anestesiado no teu ser, aniquilado na tua vida. Congelada e roxa. De bruços, murmuras palavras que não são de ti. Mastigas letras que me fazem tapar o coração para não sentir. Não te Sentir. Ali naquele leito tosco e branco ficou espojada a maior parte de mim. Esse amor pulverizado a par da alfazema perde-se remoto no ar…em vão.

A roldana pára. O mundo pára. Sou obstruído de te gostar, sou bloqueado de ser contigo.


Perder uma pessoa querida que não só nos deixou, como deixou também a vida é bem duro. Porém, perder alguém que continua a respirar aquele mesmo ar que inspiramos deixa qualquer um aturdido, atordoado, perdido. Intoxicado…Reanimar, sim é possível…Sim,acredito.

2 comments:

Marta said...

Não podemos deixar a roldana parar. È preciso ser mesmo que aqueles que gostávamos que fssem connosco fiquem perdidos no caminho e se esfume do nosso belo quadro, como se a tinta desaparecesse com o tempo.Gostei.

T. said...

uui ui.. custa e é o que custa mais...

grd texto =)

congrats*